3ª Palestra – Emanuel Castilho
Acesso ao currículo de Wiver Martins
O encerramento do ciclo, conduzido por Emanuel Castilho, foi um olhar prospectivo sobre os desafios emergentes e as tendências que moldarão o futuro da engenharia e agronomia.
Um painel de discussão com líderes do setor também se configurou como uma rara oportunidade de interação direta, permitindo que os participantes debatessem ideias e fizessem perguntas sobre o papel do Confea/Crea na promoção desses valores e as preparações necessárias para o amanhã.
Resumo da Palestra
A palestra de Emanuel Castilho, "Desafios e Perspectivas Futuras da Engenharia", ressalta a capacidade intrínseca da engenharia de moldar sociedades por meio de infraestrutura, tecnologia, saúde, alimentação e segurança. O cerne da sua apresentação é a necessidade de adaptação, enfatizando que "quem não entende o presente, compromete o futuro. E quem não se adapta, fica pelo caminho". A Quarta Revolução Industrial e a emergente Engenharia 5.0 estão no centro dessa transformação, demandando um engenheiro híbrido: técnico, digital e humano.
O Papel Central da Ética na Engenharia
Castilho dedica uma seção crucial à "Ética e Responsabilidade Social na Engenharia". Ele sublinha a "Importância da Ética Profissional", afirmando que "a ética é fundamental na formação e atuação dos engenheiros, sendo essencial para o desenvolvimento sustentável do país". Essa afirmação não é meramente retórica; ela estabelece a ética como um pilar indispensável para a sustentabilidade nacional, conectando diretamente a conduta individual do engenheiro ao bem-estar coletivo.
Em consonância com as diretrizes do Código de Ética Profissional, o CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) é explicitamente mencionado como a entidade que destaca a obrigatoriedade de todo profissional agir eticamente, respeitando seu campo de trabalho, as normas e as pessoas ao seu redor. Isso não apenas reforça a dimensão pessoal da ética, mas também a sua institucionalização através de códigos de conduta que guiam a prática profissional. A ética, portanto, transcende a mera boa vontade individual, sendo um requisito formal e inegociável da profissão.
Inteligência Artificial e os Novos Dilemas Éticos para Engenheiros
A palestra destaca que a Engenharia 5.0 é intrinsecamente ligada à Inteligência Artificial (IA), IoT, Big Data e automação. A "transformação digital está impactando profundamente a engenharia", abrangendo desde a modelagem BIM e simulações em tempo real até o uso de IA para otimização de projetos, análise de dados e manutenção preditiva. Este avanço tecnológico, embora prometedor, introduz uma série de novos desafios éticos para o dia a dia dos profissionais.
Com a IA assumindo um papel crescente na tomada de decisões em projetos de engenharia, surgem questões cruciais:
1. Responsabilidade Algorítmica: Quem é responsável por falhas ou preconceitos inerentes a algoritmos de IA utilizados em projetos críticos, como estruturas prediais ou sistemas de transporte? Se um algoritmo otimiza um projeto de forma a comprometer a segurança para reduzir custos, a responsabilidade recai sobre o engenheiro que implementou a ferramenta, sobre o desenvolvedor do algoritmo, ou sobre ambos?
2. Transparência e Explicabilidade (XAI): A complexidade dos modelos de IA, muitas vezes chamados de "caixas pretas", dificulta a compreensão de como certas decisões são tomadas. Em engenharia, onde a justificativa técnica é vital, a falta de explicabilidade da IA pode gerar dilemas éticos. Como um engenheiro pode garantir a segurança e a conformidade de um projeto se não consegue compreender completamente a lógica de otimização de um sistema de IA?
3. Vieses e Discriminação: Os sistemas de IA são treinados com dados, e se esses dados contiverem vieses históricos ou sociais, a IA pode perpetuá-los ou até mesmo ampliá-los. Em projetos de infraestrutura urbana, por exemplo, um algoritmo de IA otimizado para eficiência pode inadvertidamente criar ou agravar desigualdades sociais, privilegiando certas áreas em detrimento de outras. O engenheiro tem a responsabilidade ética de auditar e mitigar esses vieses.
4. Privacidade e Segurança de Dados: A engenharia digital e a IoT geram vastas quantidades de dados. A manipulação, armazenamento e análise desses dados, especialmente aqueles que podem conter informações sensíveis, levantam preocupações éticas relacionadas à privacidade e segurança cibernética. A proteção contra vazamentos de dados e o uso indevido da informação tornam-se responsabilidades éticas do engenheiro.
5. Impacto no Emprego e Qualificação: Embora a IA possa otimizar processos, ela também pode levar à automação de tarefas rotineiras, impactando o mercado de trabalho. Ética exige que os engenheiros considerem o impacto social das tecnologias que implementam, buscando soluções que promovam a requalificação profissional e a adaptação da força de trabalho.
A Engenharia Híbrida: O Humano como o Diferencial Mais Poderoso
Diante desses desafios tecnológicos e éticos, a palestra de Castilho reforça que o "Humano é o diferencial mais poderoso". É na capacidade humana de "liderar, se comunicar, gerar empatia, ter visão crítica e responsabilidade social" que reside a solução para navegar pelos complexos dilemas éticos da era da IA. Habilidades como saber ouvir as necessidades do cliente , gerenciar conflitos , trabalhar em equipes multidisciplinares e, crucialmente, "tomar decisões éticas frente a dilemas" são inestimáveis. O engenheiro do futuro, portanto, transcende o papel de mero executor, tornando-se um "estrategista, líder e agente de transformação".
A palestra conclui com um apelo à ação individual e coletiva: "O futuro está em Nossas Mãos". A importância de se manter estudando, conectado e com senso de propósito é vital. A transformação começa com o próprio engenheiro, pois "a engenharia travada não é só um problema técnico. É um reflexo cultural. E só muda quando o engenheiro muda". O engenheiro que pensa no futuro não apenas se adapta, mas "transforma o presente".